Ao longo da minha carreira laboratorial e como consultor Lean Lab, pude observar que muitos laboratórios apresentam deficiências quanto ao leiaute projetado para a rotina laboratorial. Essas deficiências estão em muitos casos relacionadas a reestruturações mal projetadas, reformas para atendimento de demandas, crescimento de equipes, aquisição de novos equipamentos, aplicação inadequada dos 5S… Acredite, isso acontece com mais frequência do que você pode imaginar (inclusive, trarei esta discussão como tema do próximo artigo sobre Lean Lab).
O leiaute tem papel fundamental na fase de planejamento de um novo laboratório, e o auxílio de um consultor lean nesta etapa torna-se indispensável para evitar desperdícios de transporte e movimentações que, muitas vezes, estão diretamente relacionados a problemas com as estruturas físicas dos laboratórios. Contudo, se seu laboratório já está edificado, como saber se temos oportunidades de melhorias quando pensamos em leiaute?
Laboratórios mal projetados em termos de infraestrutura apresentam alguns sintomas quase que imperceptíveis aos gestores, mas com forte impacto no desempenho e na disposição dos analistas, técnicos, pesquisadores, entre outros profissionais que estão ali no chão do laboratório, vivendo, analisando e sobrevivendo a caminhadas exaustivas em um turno de trabalho.
O primeiro sintoma observado é o excesso de movimentação nos laboratórios. Como gestor, eu o convido a observar o quanto seus analistas se movimentam durante um turno de trabalho; eles passam várias vezes em frente à porta ou à janela da sua sala? Toda vez que observar, verá os analistas se movimentando com as mãos ocupadas, com reagentes, amostras ou vidrarias o tempo todo.
Você pode até pensar que isso é normal na rotina laboratorial. Isso, inclusive, é uma típica aplicação de olhares viciados, ou seja, condicionados à rotina de tal modo que não enxergam desperdícios como movimentação e transporte. Com isso, mais uma vez, reforço a importância de uma visita de um consultor especialista, um olhar de fora, alinhado com metodologias e ferramentas para detecção de desperdícios; isso só tem a agregar.
O segundo sintoma é o excesso de retrabalho por falhas analíticas; afinal, o analista direciona grande parte de sua energia física em movimentos desnecessários e, quando precisa focar atenção no que de fato importa, seu corpo já está em condição de exaustão física e mental. Por isso, é importante a organização adequada dos laboratórios.
Mas afinal, como podemos mapear e melhorar este problema?
Existe uma ferramenta simples, mas com grande impacto, conhecida como “Diagrama de Espaguete”. Esta ferramenta consiste na identificação visual dos movimentos realizados na rotina; para isso, faz-se necessário apenas papel, caneta e uma visita ao gemba (local onde as coisas acontecem, ou seja, o laboratório).
Como aplicar o Diagrama de Espaguete?
Primeira etapa: Você precisará de uma planta baixa do seu laboratório, podendo ser elaborada de forma meramente ilustrativa com auxílio de uma régua (contudo, caso deseje mensurar a distância percorrida na íntegra, faz-se necessário plantas elaboradas com aplicação de medidas precisas, conforme a ilustração abaixo).
Segunda etapa: Identificar atividades repetitivas no laboratório, as quais você deseje mapear os movimentos. Podemos utilizar como exemplo o preparo de soluções de fase móvel, utilizadas para análises de cromatografia líquida.
Terceira etapa: Após definir a atividade que deseja mapear, risque a planta simulando o trajeto do analista para executar essa atividade. Caso deseje mapear o trajeto dos reagentes e das vidrarias, você pode utilizar canetas de cores diferentes para cada objeto ou pessoa envolvida na atividade.
Abaixo, ilustramos o trajeto necessário para executar o preparo de uma solução de fase móvel simples, que seria a mistura de alguma solução salina com um orgânico grau HPLC.
Imagem 2: Diagrama de Espaguete do Preparo de Fase Móvel
Para melhor compreensão do exercício acima, identificamos cada etapa do processo por letras do alfabeto, como podemos ver abaixo:
- Local onde o analista se senta.
- Estoque de vidrarias limpas.
- Estoque de reagentes sólidos.
- Capela de exaustão.
- Balança analítica.
- Descarte de resíduos.
Normalmente, para executar o preparo de soluções, faz-se uso de equipamentos específicos, como balança, capela de exaustão, coletor de água ultrapura, banho ultrassônico, armários de inflamáveis, pHmetro, entre muitos outros.
Identificar a disposição destes materiais e posicioná-los de forma a favorecer o fluxo dessa atividade tende a aumentar a velocidade de execução e reduzir de forma considerável o movimento de analistas e o transporte de materiais. O Diagrama de Espaguete torna-se uma ferramenta meramente ilustrativa para tornar visuais os desperdícios que envolvam movimento de pessoas e cargas.
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Bruno Henrique
Consultor 2blean