Nas minhas caminhadas pelo gemba (local onde as coisas acontecem), ainda tenho observado muitos problemas de qualidade na produção e na logística e percebo o quanto as pessoas não aplicam o conceito de poka yoke. Ao refletir, cheguei à conclusão de que talvez elas não conheçam esse conceito e, por esse motivo, decidi escrever este artigo.
Poka yoke é uma palavra japonesa que significa “à prova de erros”. Os primeiros dispositivos poka yoke desenvolvidos na indústria surgiram na década de 30, quando um dos fundadores da Toyota criou um tear que parava sua produção quando algum fio era interrompido, evitando, assim, a produção de tecidos com defeitos. Vale lembrar que ele foi desenvolvido sem nenhuma tecnologia eletrônica.
Esse conceito está dentro do conceito jidoka, que significa autonomação, a partir do qual se promove a interação entre homem e máquina buscando eficiência e qualidade. Muitas vezes, isso significa dar inteligência para que a máquina pare quando identificar um defeito e avise o homem.
Os dispositivos poka yoke são simples e capazes de tomar automaticamente uma ação contra uma possível fonte de erro, prevenindo ou detectando a ocorrência de falha. Eles recebem a seguinte classificação:
1 – Poka yoke de prevenção – são aqueles que identificam algum parâmetro fora de sua especificação e permite parar a máquina antes que ela gere o defeito.
2 – Poka yoke de detecção – são aqueles que identificam alguma especificação de um determinado produto e o retiram do processo quando apresentar defeito.
Você pode até não saber o que é poka yoke, mas ele está no nosso dia a dia. No nosso carro, há muitos dispositivos poka yoke, como o farol que apaga quando você desliga o carro, a luz indicativa de combustível baixo no painel, o carro que não liga se o câmbio estiver engatado, o sinal quando você não coloca o cinto de segurança, entre outros.
Figura 1 – Exemplos de poka yoke no carro
Há também exemplos nas áreas administrativas e em sistemas, como, por exemplo, em compras na internet: quando somos solicitados a digitar o CEP ou o número de celular, um teclado somente numérico aparece no celular, para que você não digite uma letra sem querer. Ou, ainda, ao cadastrar seu email, os sistemas verificam o formato e avisam se está correto ou incorreto.
Como fazemos, então, para aplicar esse conceito na nossa empresa?
O primeiro passo é identificar qual é a causa raiz do problema: você pode usar a análise dos 5 porquês ou o Ishikawa. Em segundo lugar, realize um brainstorm com a equipe para que possam avaliar como identificar essas causas antes que elas gerem o problema de qualidade. Vale lembrar que há muitos sensores eletrônicos que estão disponíveis no mercado que podem ser utilizados para criar poka yokes. Seja criativo e pesquise constantemente os avanços tecnológicos com inteligência artificial e outras tecnologias que existem hoje!
O terceiro passo é quantificar o ganho e a viabilidade da implementação. Nesse momento, você deve pedir ajuda para seu departamento financeiro e para a área da qualidade, para que, juntos, vocês possam identificar monetariamente quanto a empresa ganha com a implementação desse dispositivo. No gráfico abaixo, você pode ter uma referência do custo de um problema de qualidade para uma empresa do setor automotivo. Quanto mais próximo do cliente o defeito for identificado, maior será o custo.
O quarto passo é implementar o dispositivo. Nesse momento, é importante testar antes de implementar para garantir a eficiência dele. Crie também contra-provas para que possamos, periodicamente, auditar seu funcionamento.
E, finalmente, precisamos acompanhar os resultados da implementação. Recomendamos, em um primeiro momento, acompanhar diariamente o desempenho do dispositivo durante a produção.
Você pode aplicar o poka yoke na sua casa também. No meu caso, aplicamos um poka yoke simples para evitar que o microondas fosse ligado na tomada errada: colocamos um plug nas tomadas de 220 volts. Veja na figura:
Se precisar de ajuda, conte conosco.
Alexandre Cardoso
Presidente da 2blean